segunda-feira, 24 de outubro de 2011

QUANDO O HOMEM ENTRA NA MULHER


Quando o homem
entra na mulher,
como a rebentação
batendo na costa,
uma e outra vez,
e a mulher abre a boca de prazer
e os seus dentes brilham
como o alfabeto,
Logos aparece ordenhando uma estrela,
e o homem
dentro da mulher
ata um nó,
de modo que nunca mais
possam voltar a separar-se
e a mulher
trepa a uma flor
e engole o seu pecíolo
e Logos aparece
e solta os seus rios.


Este homem,
esta mulher
com o seu duplo desejo
tentaram atravessar
a cortina de Deus
e conseguiram-no por um instante,
embora Deus
na Sua perversidade
desate o nó.

ANNE SEXTON

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Um azul colorido


Era azul...
De um azul que tocava o céu.
Olhei o horizonte
E um sorriso nasceu.
Desbotava enquanto subia
Mas em baixo brilhava para mim
Com a luz que o céu lhe emprestava
Fiquei ali, enamorada, enfim.
Mergulhei e lembrei-me de tudo
Da beleza, da aventura também
De repente a saudade bateu
Aquele azul fazia-me tão bem.
É uma salada de cores lá em baixo
Peixes e corais na corrente a dançar
Então baixinho ouvi dizer
Senta-te aqui a recordar.

Cristina

quarta-feira, 22 de junho de 2011

É preciso esquecer devagar.

Como é que se Esquece Alguém que se Ama?
Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

domingo, 22 de maio de 2011

Luar


Comprei uma corda, comprida até ver
à espera da Lua conseguir prender.
Mas a corda não estica ao alto do céu
e a Lua fica onde se prendeu...
Mas com um poema e inspiração
...salta do peito a solução
Trago a Lua, satisfaço um desejo,
E na Luz da lua roubo-te um beijo!

Este poema foi-me dedicado. :-)

sábado, 21 de maio de 2011

Menina do mar


Era uma vez uma linda história
De uma Menina do Mar
Que nas ondas do seu cabelo
Teve que aprender a nadar.
Naquela ondas revoltas
De vez em quando tinha que boiar
Dava aos braços e às pernas
Para não se afogar
Brincava, ria e mergulhava
E lá voltava para respirar
Mas era no silêncio do mergulho
Que ela se punha a pensar...
Um dia viu um golfinho
Que lhe disse com carinho
Nada, Menina do Mar
Tens que te esforçar um bocadinho.
Olhou, então, para o céu
Estava um sol tão lindo a brilhar
E foi na crista de uma onda
Que à praia conseguiu chegar.

Cristina

segunda-feira, 7 de março de 2011

O pó dos dias.


"Nem sempre querer é poder. Muitas vezes, quer-se e não se pode. A diferença está entre querer... e acreditar que se pode.
Sempre que acreditamos, os milagres acontecem. E aquilo que falta a quem quer (e não pode) é um "vai, que eu olho por ti". Alguém que, algures na nossa vida, nos tenha dado a suprema bondade de acreditar naquilo em que acreditamos, e de querer o que nós queremos, que transforma o querer em poder.
Em verdade, o truque esconde-se neste pequeno pormenor: quando se quer, ninguém consegue ir - mesmo que vá pelos seus sonhos - contra todos os que, afirmando que gostam de nós, jamais nos dizem: "vai que eu serei a tua âncora". Ou "vai que eu olho por ti". (Por vezes, dizem mesmo, embrulhado num silêncio cobarde: "se fores, deixo de olhar para ti").
Todos nós precisamos de uma âncora para que os milagres aconteçam e, assim, se vença o pó dos dias. E talvez seja isso que a vida tem de mais desconcertante: não são os ventos nem as marés, só as âncoras... nos permitem navegar."

Eduardo Sá, in Chega-te  a mim e deixa-te estar

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Bons Pais dão presentes, os pais brilhantes dão o seu próprio ser.

Os bons pais atendem, dentro das suas possibilidades económicas, os desejos dos seus filhos. Fazem festas de aniversário, compram ténis, roupa, produtos electrónicos, proporcionam viagens. Os pais brilhantes dão algo incomparavelmente mais valioso aos filhos. Algo que todo o dinheiro do mundo não pode comprar: o seu ser, a sua história, as suas experiências, as suas lágrimas, o seu tempo.
Os pais brilhantes, quando podem, dão presentes materiais aos seus filhos, mas não os estimulam a ser consumistas, pois sabem que o consumismo pode esmagar a estabilidade emocional, geral tensão e prazeres superficiais.
Os pais que vivem em função de dar presentes aos seus filhos são lembrados por um momento. Os pais que se preocupam em dar a sua história aos seus filhos tornam-se inesquecíveis.
Você quer ser um pai ou uma mãe brilhante? Tenha a coragem de falar sobre os dias mais tristes da sua vida com os seus filhos. Tenha a ousadia de contar as suas dificuldades do passado, fale das suas aventuras, dos seus sonhos e dos momentos mais alegres da sua existência. Humanize-se. Transforme a relação com os seus filhos numa aventura. Tenha consciência de que educar é cada um penetrar no mundo do outro.
Muitos pais trabalham para dar o mundo aos seus filhos, mas esquecem-se de abrir o livro da sua vida para eles.
Infelizmente os seus filhos só os vão admirar no dia em que eles morrerem. Porque é fundamental para a formação da personalidade dos filhos que os pais se deixem conhecer?
Porque essa é a única maneira de educar a emoção e criar vínculos sólidos e profundos. Quanto mais inferior é a vida de um animal, menos dependente ele é dos seus progenitores. Nos mamíferos, há uma dependência grande dos filhos em relação aos pais, pois eles necessitam não apenas do instinto, mas de aprender experiências com os seus pais para poderem sobreviver.
Na nossa espécie essa dependência é intensa. Porquê? Porque as experiências aprendidas são mais importantes que as instintivas. Uma criança de 7 anos é muito imatura e dependente dos seus pais, enquanto muitos animais da mesma idade já são velhos.
Como ocorre essa aprendizagem? Eu poderia escrever centenas de páginas sobre o assunto, mas neste livro comentarei apenas alguns fenómenos envolvidos no processo. A aprendizagem depende do registo diário de milhares de estímulos externos (visuais, auditivos, tácteis) e internos (pensamentos e reacções emocionais) nas matrizes da memória. Anualmente arquivamos milhões de experiências. Diferentemente dos computadores, o registo da nossa memória é involuntário, produzido pelo fenómeno RAM (Registo Automático da Memória)
Nos computadores, decidimos o que registar, na memória humana, o registo não depende da vontade humana. Todas as imagens que captamos são registadas automaticamente. Todos os pensamentos e emoções – negativos ou saudáveis – são registados involuntariamente pelo fenómeno RAM.
Augusto Cury, in pais brilhantes, professores fascinantes

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Tarde demais...



" Podemos sentir-nos afogar e, ainda assim, sobreviver."
" O mar e a vida têm muito em comum - continuou Dolly. - Descontraiam-se. Deixem-se ir. Se acreditarem que ele vos manterá a flutuar... manterá. Mas se lutarem contra isso, se acreditarem que os afundará... afundará. A escolha é vossa."
" Desiste-se por desespero, mas cede-se por aceitação. Não devemos desistir nunca, apenas aceitar. Devemos aceitar o nosso medo e continuar de qualquer forma ou nunca aprenderemos a nadar. É a única maneira de voltarmos a terra firme."
Textos retirados de A princesa que acreditava em contos de fadas
Quando aprendemos a nadar aí sim é tarde demais...